segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Exú - Lenda por Pierre Verger

Bom dia amigos e amigas!!!!

Iniciando mais uma semana maravilhosa para continuarmos nossas conversas sobre a religião africana e, mais precisamente, os Orixás.

Você sabia que existe, também, o Exú Orixá? Pois então, assim como os outros Exús, eles pode ser benevolente e ajudar as pessoas quando bem tratado e homenageado, mas também pode fazer cobranças e criar mal-entendidos quando esquecido ou deixado de lado.

A íntegra da lenda escrita por Pierre Verger em seu livro fala exatamente desta dicotomia, nos lembrando que o que Exú requisita é, nada mais, nada menos, do que consideração e reconhecimento, assim como todos nós. 

Laroyê!

"Exu é o mais sutil e o mais astuto de todos os orixás. Ele aproveita-se de suas qualidades para provocar mal-entendidos e discussões entre as pessoas ou para preparar-lhes armadilhas. Ele pode fazer coisas extraordinárias como, por exemplo, carregar, numa peneira, o óleo que comprou no mercado, sem que este óleo se derrame desse estranho recipiente! Exu pode ter matado um pássaro ontem, com uma pedra que jogou hoje! Se zanga-se, ele sapateia uma pedra na floresta, e esta pedra põe-se a sangrar! Sua cabeça é pontuda e afiada como a lâmina de uma faca. Ele nada pode transportar sobre ela.

Exu pode também ser muito malvado, se as pessoa se esquecem de homenageá-lo. É necessário, pois, fazer sempre oferendas a Exu, antes de qualquer outro orixá. A segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. É bom fazer-lhe oferendas neste dia, de farofa, azeite de dendê, cachaça e um galo preto.

Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam, esqueceram-se, numa segunda-feira, de fazer-lhe as oferendas devidas. Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça. As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro. Exu, zangado pela negligência dos dois amigos,
decidiu preparar-lhes um golpe à sua maneira. 

Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo. Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e, muito educadamente, cumprimentou -os:
- Bom trabalho, meus amigos!

Estes, gentilmente, responderam-lhe:
- Bom passeio, nobre estrangeiro!

Assim que Exu afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita, falou para o seu companheiro:
- Quem pode ser este personagem de boné branco?
- Seu chapéu era vermelho. 
Respondeu o homem do campo à esquerda.
- Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe!
- Ele era vermelho, um vermelho escarlate, de fulgor insustentável!
- Ele era branco, tratas-me de mentiroso?
- Ele era vermelho, ou pensas que sou cego?

Cada um dos amigos tinha razão e estava furioso da desconfiança do outro. Irritados, eles agarraram-se e começaram a bater-se até matarem-se a golpes de enxada.

Exu estava vingado!

Isto não teria acontecido se as oferendas a Exu não tivessem sido negligenciadas. Pois Exu pode ser o mais benevolente dos orixás se é tratado com consideração e generosidade. Há uma maneira hábil de obter um favor de Exu. É preparar-lhe um golpe mais astuto que-aqueles que ele mesmo prepara.

Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam áridos, a chuva não caía. As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores. Nenhum orixá invocado escutou suas queixas e gemidos.

Aluman decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de carne de bode. Exu comeu com apetite desta excelente oferenda. Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado. Exu teve sede. Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede!

Exu foi à torneira da chuva e abriu-a sem pena. A chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu no dia seguinte e no dia de depois, sem parar. Os campos de Aluman tomaram-se verdes.

Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória:
- Joro, jara, joro Aluman (Dono dos dendezeiros, cujos cachos são abundantes),
- Joro, jara, joro Aluman (Dono dos campos de milho, cujas espigas são pesadas)
- Joro, jara, joro Aluman (Dono dos campos de feijão, inhame e mandioca)
- Joro, jara, joro Aluman

E as rãzinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar! Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta. Havia chovido bastante. Mais, seria desastroso! Pois, em todas as coisa, o demais é inimigo do bom."

Como podemos ver nesta lenda, fica bem claro os dois lados de Exú, onde ele pode ajudar ou, de certa forma, deixar que as pessoas se prejudiquem sozinhas.

Acredito que existe um ensinamento ainda maior que podemos tirar disto, todos nós queremos reconhecimento, não gostamos de trabalhar em troca de nada ou fazer esforços para agradar alguém que não se importa ou acha que é obrigação, portanto não podemos considerar que os outros podem fazer aquilo que nós mesmos não queremos para nós. A melhor forma é sempre pensar e se colocar no lugar do outro por alguns minutos e se perguntar o que voc~e faria naquela situação, como você se sentiria. Normalmente esse poucos minutos de reflexão ajudam a mudar toda uma história.

Ainda nesta ideia, também não podemos agir como se os Orixás tivessem obrigações de nos oferecer nada se nós não praticarmos a recíproca.

O que acha de nos das sua opinião a respeito? O que você acha sobre a lenda e sobre a conclusão final? Fico aguardando seu comentário.

Para finalizarmos essa conversa de hoje, seguem as opções de tecidos africanos verdadeiros que podem ser utilizados na confecção das roupas sagradas de Exú.



Uma ótima segunda-feira para vocês e até amanhã!!! ;-)

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