terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Educação na casa de Santo

Olá, olá comunidade querida!

Vamos conversar um pouco sobre a família de Santo e a educação o candomblé? Esse texto é muito real e interessante. Vale a pena conferir!

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A primeira referência de uma família de santo (família de candomblé) é o terreiro a que alguém pertence, ou seja, quem é a mãe ou o pai do terreiro, as suas origens, as pessoas envolvidas na sua feitura (iniciação) e por aí vai, até chegar a uma origem mais remota e, assim, também se chegar aos traços étnicos que predominam na determinada família e que a identificam como sendo de determinada nação.

Cada terreiro, mesmo tendo sua própria dinâmica, suas próprias características, à medida que mantém traços, valores (posturas, práticas relacionadas à essência, linguagem, ritos, rezas, cantigas, formas de transmissão...) que o identificam com as suas origens com grupos antecessores e formadores da sua essência, contribui para a manutenção da identidade de sua família de santo, bem como elementos, valores que remetem a um grupo étnico africano remoto. A dinâmica e reconstruções - conforme a realidade de cada geração - não deve jamais alterar a essência base do grupo pois, assim, estará alterando a sua identidade e contribuindo para a perda de uma identidade remota.

O processo de Iniciação, na realidade, deve ser visto como um processo de educação e educação para a vida, para viver no mundo em qualquer tempo, para interagir com qualquer grupo a partir do seu viver no seu grupo familiar da sua interação com o seu grupo.

Até poucas décadas atrás famílias negras que viviam em pequenas comunidades, hoje transformadas em bairros, mantinham na base da educação familiar e da comunidade traços, valores oriundos de comunidades tradicionais africanas. Do nascer ao morrer, na alegria ou na tristeza, levantando casas de taipa, fazendo adobes no terreiro em frente das casas ou nos quintais para suspender as paredes, consertando as ladeiras, comemorando as datas festivas religiosas, a ação das/dos mestras/mestres e aprendizes lá estava sendo passada no cotidiano dos grupos familiares, no grupo da comunidade. A hierarquia, o respeito, a solidariedade, a importância dos mais velhos bem como dos mais novos como continuação do grupo, do que ali se vivia, lá estava.

Guardando-se as devidas medidas de participação observando-se uma hierarquia implícita e o respeito aos mais velhos, todos agiam e interagiam a partir do lugar em que ocupava na família, na comunidade; filhos e pais, irmãos mais novos e irmãos mais velhos, os mais antigos na comunidade e os mais novos. Os jeitos de resolver os conflitos (o “aquieta acomoda”) na família, na comunidade... Enfim, tudo, mas tudo mesmo denotava um jeito de viver que muito tinha de negro, que era diferente... E isso, lá nos idos do final dos anos 40 passando pelos 50 e começo dos 60, para mim vivendo no mesmo lugar até hoje (Engenho Velho da Federação) parece até que foi ontem...

Na década de 70, já adulta, sendo professora de escola primária e apesar de ter vivido desde criança num ambiente da prática do candomblé, passei realmente a fazer parte desse grupo ao ser confirmada como makota num dos terreiros dessa comunidade e foi aí que me dei conta dos muitos jeitos que, enquanto comunidade (bairro), tínhamos perdido ou estávamos perdendo, mas que enquanto grupo, comunidade de candomblé, apesar de também estar sofrendo influência de jeitos externos, ainda podia-se encontrar e ainda se encontra esses jeitos de viver, de fazer as coisas que remetem à minha infância, à minha juventude.



Hoje é claro que vivemos uma outra realidade. Os tempos são outros, os valores, o conceito de família dentro da nossa sociedade muito longe estão dos nossos negros jeitos, dos nossos negros valores, dos nossos negros conceitos. E esse é o grande desafio que a família de candomblé, a meu ver, hoje enfrenta: diante dos modelos e caminhos, valores e conceitos impostos pela sociedade em que vivemos, manter a nossa essência os nossos modelos e caminhos, valores e conceitos compatibilizando-os com a realidade em que hoje vivemos.
Ser mãe ou pai de uma família de santo hoje, no meu entendimento, exige muito mais que antes já que hoje não estamos isolados, vivendo nos nossos guetos, em comunidades que de certo modo eram extensões dos terreiros.

Hoje, estamos agindo, interagindo nos terreiros e ao mesmo tempo dentro da sociedade, queiramos ou não. Quem somos nós hoje no terreiro? Quem somos nós hoje na sociedade? Até que ponto temos o controle da base da educação, dos valores que nossas crianças, os nossos jovens recebem? Ainda que insistamos em sinalizar em apontar valores nos quais acreditamos, podemos competir com a mídia, com as instituições que aí estão a mostrar o contrário?

Diante do quadro em que estamos inseridos, as comunidades dos terreiros têm que iniciar para o viver hoje não só transmitindo o legado das tradições recebidas, mas educando para viver esse legado fora do ambiente do terreiro, bem como trazer para o ambiente do terreiro as questões que nos aflige e que é parte do nosso cotidiano dentro da sociedade em que vivemos a fim de buscarmos saídas, caminhos de solução.
(Texto Valdina O. Pintohttp://tinyurl.com/n6ct8hf)


Energias positivas!

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